A Revolução Etíope de 1974, um terremoto político que abalou os alicerces da monarquia imperial de séculos, marcou um ponto de virada significativo na história da Etiópia. Esse evento complexo e multifacetado foi moldado por uma confluência de fatores internos e externos, refletindo as tensões sociais, econômicas e políticas profundas que assolavam o país. As raízes da revolução podem ser rastreadas até a década de 1960, quando um crescimento populacional acelerado, desigualdades socioeconômicas gritantes e uma série de crises agrárias começaram a minar a legitimidade do regime imperial liderado por Hailé Selassié I.
A crescente insatisfação popular se manifestou em protestos estudantis cada vez mais frequentes e organizados, que denunciavam a falta de oportunidades educacionais, o autoritarismo do governo e a corrupção endêmica. Enquanto isso, grupos de esquerda radicais começaram a ganhar força, inspirados por movimentos revolucionários internacionais como o da Cuba de Fidel Castro e o da China Mao Tsé-Tung. A Guerra Fria também desempenhou um papel crucial neste contexto, pois tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética buscavam influência na Etiópia, uma região estratégica no Chifre da África.
Em fevereiro de 1974, uma série de greves de trabalhadores e protestos estudantis se intensificaram em Addis Abeba, culminando com a formação do “Comitê Coordenador para a Mudança” - um grupo multifacetado que unia estudantes, militares, intelectuais e outros setores da sociedade etíope. A pressão popular sobre o governo imperial se intensificou rapidamente, levando a uma série de concessões superficiais por parte de Hailé Selassié I. No entanto, essas tentativas de apaziguar as massas eram insuficientes para conter a onda revolucionária que se avizinhava.
Em setembro de 1974, um golpe militar liderado pelo Derg, uma junta militar marxista-leninista, derrubou o governo imperial de Hailé Selassié I, marcando o fim de uma era na história da Etiópia. O imperador foi deposto e mantido sob prisão domiciliar até sua morte em 1991.
As consequências da Revolução Etíope de 1974 foram profundas e de longo alcance. A abolição da monarquia imperial e a proclamação da República Democrática Popular da Etiópia representaram uma mudança radical no sistema político do país, com o estabelecimento de um regime socialista de partido único sob o comando do Derg.
Impacto | Descrição |
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Mudança política | Fim da monarquia imperial e início do governo de partido único liderado pelo Derg. |
Reformas sociais | Nacionalização de terras, empresas e indústrias; reforma agrária que visava redistribuir a terra entre os camponeses. |
Intervenções estrangeiras | A Guerra Fria teve um impacto significativo na Etiópia durante este período. O país recebeu apoio da União Soviética, Cuba e outros países socialistas. |
A revolução também levou a uma série de mudanças sociais e econômicas significativas:
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Nacionalização: O Derg nacionalizou terras, empresas e indústrias, tentando redistribuir a riqueza e eliminar a desigualdade.
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Reforma agrária: A reforma agrária buscava dar terra aos camponeses pobres, que constituíam a maioria da população. No entanto, essa reforma foi implementada de forma confusa e violenta, muitas vezes levando à perda de terras por parte de pequenos proprietários e ao aumento da pobreza.
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Guerra Civil: A Revolução Etíope levou a uma longa guerra civil que se estendeu durante as décadas de 1970 e 1980. O Derg enfrentou rebeldes da Eritreia e do Tigré, lutando por autonomia e independência. Essa guerra civil resultou em milhares de mortes e contribuiu para a instabilidade política e econômica do país.
A Revolução Etíope de 1974 foi um evento complexo e multifacetado que transformou profundamente o país. Embora tenha prometido justiça social e igualdade, a revolução acabou por levar a uma ditadura brutal e uma longa guerra civil. O legado da revolução continua sendo debatido na Etiópia até hoje, com algumas pessoas vendo-a como um passo em direção à liberdade e outras lamentando suas consequências trágicas.